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Eros, Pâ e o medo como motor das redes sociais
Por Julia Duque Estrada Pontes
Resumo
RESUMO: Pã, pânico, pandemia. O mito da criatura com rosto e pés de cabra, o deus Pã, assola a humanidade desde os primórdios. Esse breve e impactante nome é prefixo de uma síndrome que defronta o ser humano com o medo e o desamparo. É, também, nome da ameaça de contágio, em larga escala, que recentemente tomou forma de um minúsculo vírus letal. Hoje, profissionais do marketing abusam dos encantos deste deus ao fabricarem narrativas para “viralizarem” nas redes sociais, conquistando amplo alcance e engajamento. Todas elas têm em comum o apelo à emoção, às respostas irrefletidas e irracionais. São conteúdos empacotados para consumo imediato, que se utilizam do conceito de complexo, abordado pela psicologia analítica. No núcleo de cada complexo há arquétipos, centros mobilizadores de intensa carga afetiva que podem se materializar como os deuses da mitologia antiga. Tomam de assalto as pessoas quando menos se espera, tornando-as manipuláveis aos seus caprichos. Além de Pã, outro deus frequentemente evocado nas narrativas das redes sociais é o intrépido cupido Eros. Ele parece falar sobre o nascimento de um amor que depende da integração de polaridades opostas, como prosperidade e escassez. Este artigo se propõe a analisar como as narrativas fabricadas nas redes sociais ecoam na psique humana, tendo como eixo o mito de Pã, de um lado, e de Eros, de outro. Objetiva refletir sobre meios de lidar com a comunicação digital de modo mais consciente, para que a flauta de Pã e a flecha de Eros possam abrir caminhos na escuridão, no curso da individuação. A hipótese é de que seja possível descortinar novas formas de lidar com a comunicação em redes, inspiradas pela vivência luminosa de tais mitos. Em lugar de narrativas de ódio, apoiadas no medo que polariza e imobiliza, interroga-se a possibilidade de resgate do sentido da palavra “comunicação/communicare” enquanto “comunhão/compartilhamento”. Este artigo parte de conceitos junguianos tais como persona, sombra, complexo e projeção. E também de formas comunicativas compassivas, como a Comunicação não-violenta.